para sempre vos recordardes!


Ó vós, que não sabeis do Inferno, olhai, vinde vê-lo, o seu nome

é só - PUSILANIMIDADE.


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Parte 3


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Romance XLVIII ou do jogo de cartas Grandes jogos são jogados e

ntre a terra e o firmamento:

longas partidas sombrias, por anos, meses e dias, independentes do tempo...


Soldados e marinheiros, camponeses e fidalgos, ministros, gente da Igreja,

não há mais ninguém que esteja fora dos vastos baralhos.

Batem as cartas na mesa, na curva mesa da terra.

Partida sobre partida, perde-se renome ou vida: mas a perdição é certa.


Lá vêm corações em sangue, lá vêm tenebrosos chuços: defrontam-se ouros e espadas, saltam coroas quebradas, morrem culpados e justos.


Batem as cartas na mesa... Cruzam-se naipes e pontos: não se avista quem baralha esta confusa batalha

de enigmas, quedas e assombros.


Grandes jogos são jogados. E os silenciosos parceiros

que o jogo, fora de alcance, pertence a dedos alheios.


Mesas de Queluz cobertas

de ouros, paus, espadas, copas... (Minas, sangue, sofrimento... )

No baralho bate o vento

e o jogo segue outras voltas.


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Romance XLIX ou de Cláudio Manuel da Costa “Que fugisse, que fugisse...

- bem lhe dissera o embuçado! –

que não tardava a ser preso, que já estava condenado,

que, os papéis, queimasse-os todos... Vede agora o resultado:

mais do que preso, está morto, numa estante reclinado,

e com o pescoço metido num nó de atilho encarnado.


E que chegaram doutores, e deixaram declarado

que o morto não se matara, mas que fora assassinado.


E que o Visconde dissera: “Dai-me outro certificado, que aquele ficou perdido

E quem vai saber agora o que se terá passado?


- Talvez o morto fosse outro, em seu lugar colocado.

A sombra da noite escura encobre muito pecado.

Talvez pelo subterrâneo fosse ao Palácio levado... Era homem de muitas luzes, pelo povo respeitado; Secretário do Governo,

que vivia em grande estado: casa de trinta aposentos, muito dinheiro emprestado, e do velho João Fernandes, dono do Serro, afilhado!


- Não creio que fosse morto por um atilho encarnado, nem por veneno trazido, nem por punhal enterrado. Nem creio que houvesse dito o que lhe fora imputado.

Sempre há um malvado que escreva o que dite outro malvado,

e por baixo ponha o nome que se quer ver acusado...


Entre esta porta e esta ponte, fica o mistério parado.

Aqui, Glauceste Satúrnio, morto, ou vivo disfarçado, deixou de existir no mundo, em fábula arrebatado, como árcade ultramarino em mil amores enleado.


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Romance L ou de Inácio Pamplona


Por aqui passou Pamplona, homem de força e de orgulho. Por aqui passou Pamplona, grande pressa, cara alegre, no dia 4 de julho.

a uns descobertos distantes.

Disse que fora mandado lá para uma serra brava,

atrás de ouro e de diamantes.


Não porque ele o referisse, mas toda a Vila sabia

- não porque ele o referisse – que se achara o Doutor Cláudio morto, nesse mesmo dia.


Passou como um fugitivo, e levava ao lado um vulto. Passou como um fugitivo: e talvez seu companheiro

fosse o Doutor Cláudio, oculto.


Quando os Ministros chegaram para a Devassa, nas Minas, quando os Ministros chegaram, sua sombra se perdera

além daquelas colinas.


Por aqui passou Pamplona, homem de força e de orgulho.


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Por aqui passou Pamplona,

a falar em longas viagens, no dia 4 de julho.


Mas ficara ali por perto... Nem ouro nem serra brava... Mas ficara ali por perto.

E a morte do Doutor Cláudio ninguém, na Vila, explicava...


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Romance LI ou das sentenças Já vem o peso do mundo

com suas fortes sentenças.

Sobre a mentira e a verdade desabam as mesmas penas. Apodrecem nas masmorras, juntas, a culpa e a inocência.


O mar grosso irá levando,

para que ao longe se esqueçam, as razões dos infelizes,

a franja das suas queixas, o vestígio dos seus rastros, a sua inútil presença.


Já vem o peso da morte, com seus rubros cadafalsos, com suas cordas potentes,

com seus sinistros machados, com seus postes infamantes para os corpos em pedaços; já vem a Jurisprudência interpretar cada caso,

com os homens mais desarmados.


Já vem o peso da usura, bem calculado e medido. Vice-reis, governadores, chanceleres e ministros,

por serem tão bons vassalos,


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não pensam mais nos amigos: mas há muita barra de ouro, secretamente, a caminho; mas há pedras, mas há gado prestando tanto serviço

que os culpados com dinheiro sempre escapam aos castigos.


Já vem o peso da vida, já vem o peso do tempo: pergunta pelos culpados

que não passarão tormentos, e pelos nomes ocultos

dos que nunca foram presos.

Diante do sangue da forca e dos barcos do desterro, julga os donos da Justiça, suas balanças e preços.

E contra seus crimes lavra a sentença do desprezo.


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Romance LII ou do carcereiro


Isso é o que diz o embargo. Mas eu, cá para mim,

acho que, nesta história, ele vai ter mau fim.


A esse é que levarão, pelas ruas afora,

com baraço e pregão.


Nunca lhe deram nada. Quem lhe daria agora perdão?


Nunca o escrivão escreve o que a vítima diz.

Não tem lei nem justiça quem nasceu infeliz.


A verdade não

vem defender acusados... Não se entende ninguém.


Tudo isto é enredo grande, e, por todos os lados, falsidades se vêem.


A roda anda e desanda, e não pode parar.

Jazem no fundo, as culpas: morrem os justos, no ar.


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Romance LIII ou das palavras aéreas Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna,

e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma!


Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza

seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota...


A liberdade das almas,

ai! com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil como o vidro

e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam...


Detrás de grossas paredes, de leve, quem vos desfolha? Pareceis de tênue seda,


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sem peso de ação nem de hora...


Ai, palavras, ai, palavras, íeis pela estrada afora,

erguendo asas muito incertas, entre verdade e galhofa, desejos do tempo inquieto, promessas que o mundo sopra..


Ai, palavras, ai, palavras, mirai-vos: que sois, agora?


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Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem...

- sois um homem que se enforca!


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Romance LIV ou do enxoval interrompido Aqui esteve o noivo,

de agulha e dedal,

bordando o vestido do seu enxoval.


Em maio, era em maio, num maio fatal; feneciam rosas

pelo seu quintal.

Por estrada e monte, neblina total.

No perfil da lua, um nimbo mortal.

(Mas quem lê na névoa o amargo sinal?)


A noite na Vila

é densa e glacial. O sono, embuçado em cada beiral.

Quem não dorme, sonha com seu enxoval.


A agulha, de prata,

e de ouro, o dedal. Em haste de cera, ergue o castiçal para a turva noite lírio de cristal.


“Sabeis, ó pastora, daquele zagal


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que andava num prado sobrenatural?

Teria inimigo? Teria rival?”


O sono conversa em cada poial.


“Sabeis, ó pastora, quem seja o chacal que os passos arrasta de Longe arraial?

Eu vi sua língua:

é um negro punhal. Que mortes fareja o imundo animal?”


De prata era a agulha, e de ouro, o dedal.

Em sonho traçava, com doce espiral de brilhantes flores, novo madrigal.


“Sabeis, ó pastora, por que o maioral manda pôr algemas no louro zagal

que tranqüilo borda lírico enxoval?”


Estrela de aurora, fonte matinal,

já vistes e ouvistes desventura igual? A agulha partiu-se.

Quebrou-se o dedal. Romperam-se as flores

- a que vendaval?

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“Procurais os rastos do infame chacal? S umiram-se embaixo do trono real!”


Soluçam as águas em seu manancial.

E em sedas que foram de seda e coral,

vai rolando um triste orvalho de sal. “Sabeis, ó pastora, daquele zagal,

que agora não borda seu rico enxoval?”


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Romance LV ou de um preso chamado Gonzaga Quem sabe o que pensa o preso

que todas as leis conhece,

e continua indefeso!


Aquele magistrado

que digno fora, e austero, agora te aparece criminoso. E pondero: Tudo no mundo mente. (Daqui nem ouro quero...)


Pode ser que assim falasse e pode ser que corressem lágrimas, por sua face.


No remoto Passado fica o semblante vero,

do que hoje aqui padece. Mas não me desespero, que a vida é sem Presente. (Daqui nem ouro quero...)


Mas eram falas perdidas, que havia léguas e léguas de sua vida e outras vidas...


Inocente, culpado?

Enganoso? Sincero?

Por muito que o confesse, o amor não recupero.

No entanto, ó surda gente, daqui nem ouro quero...


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Romance LVI ou da arrematação dos bens do Alferes Arrematai o machinho

castanho rosilho! Custa

10 mil-réis: o que o algebrista lhe pôs na avaliação.

Ai! corta rios e espinhos, e já nada mais o assusta: Só ele sabe o que leva na sua imaginação.


Arrematai as esporas, com seu jogo de fivelas!

Pesam 39 oitavas

e uma pequena fração.

E ireis pelo mundo afora aprumado em qualquer sela, propalando a sanha brava dessa história de traição.


Arrematai as navalhas

e a tabaqueira de chifre! Neste corredor de trevas, nossos passos aonde irão?

Feliz aquele que leve

um ponteiro que o decifre! Arrematai-o! - Não falha, este relógio marcão.


Arrematai, juntamente, esta bolsinha dos ferros: por menos de 3 cruzados, ficareis tendo a ilusão

de, por entre escuma e berro,


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arrancar os duros dentes

a qualquer monstro execrando ou peçonhento dragão!

Arrematai, sobretudo, este pobre canivete.

São 30 réis, 30, apenas... E com que satisfação aparareis vossa pena!

Quem sabe em que papéis mudos ela, a correr, interprete esta vã conspiração.


E este espelho, surpreendido por não sentir mais a cara

de entusiasmo, dor e espanto daquele homem de paixão? Arrematai-o! Um gemido,

que antes nunca se escutara, e turvas gotas de pranto

em sua lâmina estão.


Arrematai a fivela

da volta do pescocinho, que para sempre recorda definitiva aflição!

Pois estão marcados nela o sítio certo e o caminho por onde cutelo e cordas cumprem sua obrigação.


Arrematai essas horas guardadas pelos ponteiros, arrancadas ao seu dono, rogando consumação!

Interrogai-as, agora

que os reis tremem nos seus e os antigos prisioneiros

de cinza e de glória são.


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Romance LVII ou dos vãos embargos “Este é o homem loquaz

e sem reputação,

sem créditos nem bens que o tornassem capaz de semelhante ação.


Só por indiscrição, quiméricas idéias proferiu - sem escolha

de tempo ou de lugar,

por fúria da razão.


Ficava para trás,

por sério e desvalido, em toda promoção.

Era um homem loquaz, e quis fazer das Minas uma grande Nação.”


(Ninguém faz o que quer. Ninguém sabe o que faz. E os culpados quem são?)


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Romance LVIII ou da grande madrugada Se já vai longe a alvorada,

então, por que tarda o dia?

Que negrume se levanta, e com sua forma espanta a luz que o mar anuncia?


Não é nuvem nem rochedo: detende as rédeas ao medo!

- É o negro Capitania.


Olhai, vós, os condenados,

a grande sombra que avança: livre de pasmo e alvoroço, este é o que aperta o pescoço aos réus faltos de esperança..


E, para gerais assombros, ainda lhes cavalga os ombros, e nos ares se balança!


Ah, não fecheis vossos olhos, que hoje é tempo de agonia!

Lembrai-vos deste momento, neste sinistro aposento

onde a morte principia!


Vede o mártir como fita sereno a sua desdita

e o negro Capitania!


“Oh! permite que te beije

os pés e as mãos... Nem te importe


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arrancar-me este vestido.. Pois também na cruz, despido, morreu quem salva da morte!”


Vede o carrasco ajoelhado, todo em lágrimas lavado, lamentar a sua sorte!


Já vai o mártir andando, cercado da clerezia.

Franjas, arreios dourados, clarins, cavalos, soldados, e uma carreta sombria,


que lhe vai seguindo os passos, e onde há de vir em pedaços, com o negro Capitania.


Ah, quanto povo apinhado pelos morros e janelas!

Ouvidores e ministros carregam perfis sinistros no alto de faustosas selas.


Ondulam colchas ao vento e - brancas de sentimento rezam donas e donzelas.


Ah, quantos degraus puseram para a fúnebre alegria

de ver um morto lá no alto, de assistir ao sobressalto dessa afrontosa agonia!


E ver Levantar-se o braço, e ver pular pelo espaço

o negro Capitania!


“Nem por pensamento traias


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teu Rei...” Mas, na grande praça há um silencioso tumulto:

grito do remorso oculto, sentimento da desgraça...


Pára o tempo, de repente. Fica o dia diferente.

E agora a carreta passa.


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Romance LIX ou da reflexão dos justos Foi trabalhar para todos...

- e vede o que lhe acontece!

Daqueles a quem servia,

já nenhum mais o conhece. Quando a desgraça é profunda, que amigo se compadece?


Tanta serra cavalgada! Tanto palude vencido! T anta ronda perigosa,

em sertão desconhecido!

- E agora é um simples Alferes louco, - sozinho e perdido.


Talvez chore na masmorra. Que o chorar não é fraqueza. Talvez se lembre dos sócios dessa malograda empresa.

Por eles, principalmente, suspirará de tristeza.


Sábios, ilustres, ardentes, quando tudo era esperança... E, agora, tão deslembrados até da sua aliança!

Também a memória sofre,

e o heroísmo também cansa.


Não choram somente os fracos. O mais destemido e forte,

um dia, também pergunta,

contemplando a humana sorte,


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se aqueles por quem morremos merecerão nossa morte.


Foi trabalhar para todos.. Mas, por ele, quem trabalha? Tombado fica seu corpo, nessa esquisita batalha. S uas ações e seu nome,

por onde a glória os espalha?


Ambição gera injustiça. Injustiça, covardia.

Dos heróis martirizados nunca se esquece a agonia. Por horror ao sofrimento, ao valor se renuncia.


E, à sombra de exemplos graves, nascem gerações opressas.

Quem se mata em sonho, esforço, mistérios, vigílias, pressas?

Quem confia nos amigos? Quem acredita em promessas?


Que tempos medonhos chegam, depois de tão dura prova?

Quem vai saber, no futuro

o que se aprova ou reprova? De que alma é que vai ser feita essa humanidade nova?


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Romance LX ou do caminho da forca Os militares, o clero,

os meirinhos, os fidalgos

que o conheciam das ruas, das igrejas e do teatro, das lojas dos mercadores e até da sala do Paço;

e as donas mais as donzelas que nunca o tinham mirado, os meninos e os ciganos,

as mulatas e os escravos, os cirurgiões e algebristas,

leprosos e encarangados,

e aqueles que foram doentes e que ele havia curado


Tudo leva na memória:

em campos longos e vagos, tristes mulheres que ocultam seus filhos desamparados.

Longe, longe, longe, longe, no mais profundo passado...

- pois agora é quase um morto, que caminha sem cansaço, que por seu pé sobe à forca, diante daquele aparato...


Pois agora é quase um morto, partindo em quatro pedaços, e - para que Deus o aviste – levantado em postes altos.


(Caminha a Bandeira da Misericórdia.

Caminha, piedosa, nos ares erguida, mais alta que a tropa.

Da forca se avista a Santa Bandeira da Misericórdia.)


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Romance LXI ou dos domingos do Alferes Quando sua mãe sonhava,

como uma simples menina,

já falava nesse nome DOMINGOS.

Domingos Xavier Fernandes, que era o nome de seu pai.


Quando a menina dizia, agora já mulher feita, DOMINGOS,

- era Domingos da Silva

dos Santos. Outro Domingos. Domingos com quem casou.


E quando, depois, sorria, estudando para mãe, DOMINGOS,

Domingos, - ia dizendo. E assim ao primeiro filho

Domingos chamou, também.


Esse nome de Domingos por toda parte o seguira. DOMINGOS:

na infância ao longe deixada, na adolescência perdida,

em todo tempo e lugar...


- Ah, Domingos de Abreu Vieira, quem batizará meu filho?

DOMINGOS,

meu amigo poderoso,


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as coisas vão levar volta, quem sabe o que vou passar?

Domingos sobre domingos nas folhas dos calendários: Domingos

- para a carta de Silvério, para a subida à Cachoeira, para a denúncia vocal...


Ai! de domingo em domingo, chega ao caminho do Rio.

DOMINGOS!

Encontra Domingos Pires: “Leva pólvora, Domingos, que a venderás muito bem!”


Domingos conta a Domingos.. (É nome predestinado!) DOMINGOS!

Já se desenrola a história... Já vem da Vila à Cidade, do Visconde ao Vice-Rei...


E, como vê sentinelas

sobre os seus passos rodarem, DOMINGOS!

Sobe por aquela escada, envolto na noite escura c omo um criminoso vil.


E era a casa de Domingos, na Rua dos Latoeiros: DOMINGOS!

Entre as imagens de prata, banquetas e crucifixos, Domingos Fernandes Cruz.


Era a casa de Domingos...


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e era em dia de domingo... DOMINGOS!

- último dia de sonho,

que, agora, os domingos todos são domingos de prisão.


Certa manhã tenebrosa,

no Campo de São Domingos, DOMINGOS!

(Sempre o nome de Domingos) lhe apontaram a alta forca

de vinte e cinco degraus.


E num dia de domingo

seus quartos foram salgados. DOMINGOS!

- despachados para os sítios onde alguém o tinha ouvido falar de conspiração...


Lá vai cortado em pedaços, lá vai pela serra acima...

DOMINGOS!

Domingos Rodrigues Neves, com os oficiais de justiça, tranqüilamente o conduz.


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Romance LXII ou do bêbedo descrente Vi o penitente

de corda ao pescoço.

A morte era o menos: mais era o alvoroço. Se morrer é triste, por que tanta gente vinha para a rua

com cara contente?


(Ai, Deus, homens, reis, rainhas... Eu vi a forca - e voltei.

Os paus vermelhos que tinha!)


Batiam os sinos, rufavam tambores, havia uniformes, cavalos com flores...

- Se era um criminoso, por que tantos brados, veludos e sedas

por todos os lados?

(Quando me respondereis?) Parecia um santo,

de mãos amarradas,

no meio de cruzes, bandeiras e espadas.

- Se aquela sentença já se conhecia,

por que retardaram a sua agonia?


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(Não soube. Ninguém sabia.)


Traziam-lhe cestas de doce e de vinho para ganhar forças naquele caminho.

- Se era condenado e iam dar-lhe morte,

por que ainda queriam que morresse forte?

(Ninguém sabia. Não sei.) Não era uma festa.

Não era um enterro.

Não era verdade e não era erro.

Mas o eco andava tão longe!

E os homens, que estavam perto, não repercutiam nada...


“Bebamos, ;pois, ao futuro!”

Mas o traidor escondido e as sentinelas esquivas

não lhe esclarecem mais nada.


Já se afastam os amigos, e já não tem mais amada. Leva uma dobla no bolso, leva uma estrela no sonho e uma tristeza sem nada.


(“Ah, se eu me apanhasse em Minas...”)

- suspira a voz fatigada.


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Mas largo é o rio na serra! “Quem tivesse uma canoa.. “ (Não servira para nada... )


(Já vão subindo os algozes, com duros passos na escada. No bacamarte que empunha, há quatro dedos de chumbo, porém não dispara nada.


Tanto tempo na masmorra! Tanta coisa mal contada!

Os outros têm privilégios, amigos, ouro, parentes... Só ele é que não tem nada.


E vós sabeis, ó Vilas,

e tu bem sabes, estrada, quem galopava essa terra, quem servia, quem sofria por quem não fazia nada!


Dizem que por sua língua anda a terra emaranhada... Pois quem quiser faça agora perguntas sobre perguntas,

- que já não responde nada.


Já lhe vão tirando a vida. lá tem a vida tirada.

Agora é puro silêncio, repartido aos quatro ventos, já sem lembrança de nada.)


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Romance LXIV ou de uma pedra crisólita Dizem que saiu dessa casa

com uma crisólita na mão.

Era de noite, era já tarde, era numa triste ocasião. As sentinelas escutavam seu passo pela escuridão.


Trazia de volta essa pedra que não pôde ser lapidada. Frustrada jóia - de quem era? a quem seria destinada?

A morte sempre está com pressa, e os anéis não lhe dizem nada...


Entrou pela sombra da rua

com o peso da pedra nos dedos. E a cidade era muito escura,

e o tempo cheio de segredos, e a noite era uma trama

surda de negras denúncias e medos.


Caminhou por ali acima, sozinho, veemente, calado, com sua crisólita fria

que tinha dentro um sol fechado. E seguiu por aquela esquina, com seu passo já condenado.


Dias depois é que foi preso, entre uma parede e uma cama, segundo os rigores do tempo

e os elos da noturna trama.


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E rolou pelo esquecimento sua crisólita sem chama.