porque, se Cristo, Senhor nosso, fundou o seu Reinado por meio de homens
santos, com muito mais razão se servirá deles para aperfeiçoá-lo. Em terceiro
lugar, diz que será o socorro dos príncipes seculares. Porque — diz o Autor—
assim como as almas não serão governadas pelos bispos, estando separadas do
corpo, mas sim unidas a ele, assim também entre os príncipes seculares e os
eclesiásticos deve haver esta união, e por isso Deus, no Velho Testamento,
dividiu entre os dois irmãos, isto é, Moisés e Aarão, o poder secular e sacerdotal,
para que entendêssemos que se deviam unir entre si no amor fraternal. Traz para
este fim muitas histórias, e o que diz Isaías no cap. XLIX, falando sobre a Igreja:
Serão os reis os teus curadores, e as rainhas as tuas amas.
No V caderno, pergunta se antes do fim do Mundo todos serão cristãos e,
refutando o que diz o Padre Soares,—que, ainda que a Igreja se dilatará por todo
o Mundo, nega contudo que todos se converterão — o Autor afirma que
totalmente hão-de ser cristãos, porque a Sagrada Escritura diz que todas as
gentes, pátrias e famílias de nações o adorarão—isto é, a Jesus Cristo,
acrescentando a mesma Escritura que até cada um dos indivíduos o há-de
adorar. Logo, por conseqüência, deve vir tempo em que se convertam não só as
nações, pátrias e famílias, mas ainda mesmo cada um dos homens.
No VI caderno, trata do tempo em que de uma vez ou dos tempos em que
por partes se há-de completar a conversão de todo o Mundo à Fé, e diz que todos
os intérpretes querem que esta conversão de todo o Mundo à Fé não se
completará senão depois da morte do Anticristo por Elias, que converterá os
Judeus, e por Henoc, que converterá aos Gentios, segundo o que disse Cristo,
Senhor nosso, ,por S. Marcos, cap. IX: Quando vier Elias restituirá todas as
cousas. O Autor, porém, segue outro parecer, ensinando que não há-de haver
uma só conversão, porém que são duas as conversões gerais de todo o Mundo: a
primeira, pelos sucessores dos Apóstolos, antes da morte e destruição do
Anticristo, e o prova: primeiro, porque o fim por que Cristo, Senhor nosso mandou
aos Apóstolos, foi a conversão de todo o Mundo, porque diz: Pregai o Evangelho
a todas as criaturas; logo, não se tendo ainda alcançado este fim, algum dia se
alcançará. Segundo, porque, sendo certíssimo tanto que antes do dia de juízo
todo o Mundo se deve converter à Fé, como que, desde a morte do Anticristo até
o dia de juízo, não se hão-de passar mais que 45 dias, é impossível que em tão
breve tempo todos os homens geralmente se possam converter à Fé de Cristo por
meio de dois homens, Henoc e Elias logo, deve preceder a vinda do Anticristo
outra conversão geral de todo o Mundo. Terceiro, porque, se antes da vinda do
Anticristo todo o Mundo não fosse cristão, o Articristo não seria o Anticristo
porque Anticristo é aquele que se opõe aos Cristãos, logo, antes da vinda do
Anticristo, todo o Mundo deve ser cristão. Confirma, além disto, o seu dito pelas
referidas palavras de Cristo, que não diz: Elias, quando vier, converterá tudo,
porém, sim,—restituirá tudo—que quer dizer que aqueles que por causa de
tormentos e enganos do Anticristo se tiverem afastado da Fé, serão restituídos a
ela; logo, se os restituir à Fé, segue-se que já tinham sido antes cristãos.
Ajunta muitas dificuldades desta conversões. As principais são: que a
conversão precedente à vinda do Anticristo será feita pelos sucessores dos
Apóstolos sem mudança de hábito, que terá por fim a conversão de todos aqueles
que, ou por malícia ou por erro invencível, não tiverem abraçado a Fé de Cristo,
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