Mrs. Dalloway

Abstract

Uma mulher que prepara uma festa. Uma festa que se dá para a burguesia. A burguesia que define o estilo de uma sociedade. Uma sociedade que se reconstrói depois da grande guerra. Uma guerra que ainda não acabou. E tudo isso num único dia, em meio a flores que precisam ser compradas e lembranças que explicam como se chegou aonde se está. Mrs. Dalloway, considerado a obra-prima de Virginia Woolf, pode ser resumido de muitas maneiras simples, e a simplicidade do enredo deve, no entanto, levar o leitor a descobrir toda a densidade e amplitude deste romance ao mesmo tempo comovente e transformador. Publicada em 1925, a história de um dia na vida de Clarissa Dalloway revolucionou a literatura: depois dela o romance não pôde mais ser compreendido e elaborado da mesma maneira. É como se o que se acreditava ser o romance moderno tivesse sido cindido a partir de então. Compondo um retrato perspicaz e original de paisagens e sentimentos, Virginia Woolf simultaneamente observa a burguesia na Londres do começo da década de 1920 — seus costumes, regras e influências — e conduz sua personagem a uma pungente viagem interior. Exibindo a dualidade das coisas, do mundo ao seu redor e dos sentimentos que lhe invadem, Mrs. Dalloway expõe a permanente transição do eu ao outro, da paz à guerra, da reputação ao banimento, da perfeição ao erro, da sanidade à loucura, da vida à morte. E as questões humanas mais fundamentais, e com as quais nos deparamos desde sempre, surgem em meio ao cotidiano mais corriqueiro, às pequenas tarefas de todos os dias, durante os arranjos para uma festa, entre um e outro convite que deve ser feito. Virginia Woolf insiste que a enormidade da vida não aparece apenas nos temas grandiosos que eram a inspiração do romance, e coloca um intenso dia-a-dia como personagem principal dessa história emocionante. O fascínio deste livro e a sua contribuição fundamental à história da literatura universal vêm, desde a sua publicação,- produzindo comentários, outros livros, filmes e admiradores ardorosos. Há quem o defina como "o primeiro romance a fazer a cisão do átomo” e emitir, pelo século XX e além, o turbilhão dessa energia concentrada nos detalhes, na construção perfeita do estilo, na passagem sutil de uma observação direta dos fatos ao pensamento mais intimista. Percebê-lo em sua grandeza é não renegar nem um minuto sequer desse esplêndido e torturante dia para o qual Virginia Woolf nos convida, com direito a algumas das mais belas, complexas e incisivas frases já escritas. Afinal, ela "sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse".