Senhora

Abstract

O Romantismo, entendido aqui como escola literária, vivia os seus últimos anos de glória quando veio a público Senhora — perfil de mulher, em 1875, penúltimo livro de José de Alencar. Seis anos depois, em 1881, Machado de Assis e Aluísio Azevedo escancaravam as portas do Realismo/Naturalismo. Senhora vem completar uma trilogia, ao lado de Lucíola (1862) e Diva (1864). Os três romances apresentam, como subtítulo, a intenção do autor: traçar "perfis de mulher"; para tanto, narra-nos ações e reações de tipos femininos que vivem situações marcadas pelo conflito, pela contradição. Outro ponto em comum: as três obras foram publicadas sob o pseudônimo de G. M., criado exclusivamente para esse fim. Que tintas usou Alencar para traçar esses "perfis"? Entre as cores fortes e emotivas do coração e os tons mais equilibrados e profundos das mentes, optou declaradamente pelas primeiras. Rebatendo algumas críticas que lhe eram feitas, Alencar publica, como apêndice ao romance Senhora, uma simulação de carta-resposta escrita por uma leitora (na verdade, escrita pelo próprio Alencar); nessa carta, o escritor afirma que se dedicava, mais do que qualquer outro escritor, a um "gênero, que se pode qualificar de romance fisiológico". Essa classificação, seguindo um caminho inaugurado por Balzac, aplicava-se ao romance que procurava realizar um estudo do comportamento humano "penetrando no coração de seus personagens". Que "mulheres" têm seus corações devassados pelo escritor? Em seus romances urbanos, ambientados no Rio de Janeiro do Segundo Império, nos deparamos com mulheres idealizadas que refletem, em suas ações e reações, dois modelos de sociedade: a real, com seus valores em estado de mutação; e a desejada por José de Alencar, com seus valores ameaçados.