A faca no peito

Abstract

Nossa! Que saliência!" diz Adélia Prado, relembrando o pai ao verificar que chega ao oitavo livro de uma carreira vitoriosa. Seu nome já ultrapassou as fronteiras da "divina polis", como ela mesma se refere, em tom de blague, à cidade natal, em Minas Gerais, incorporando-se definitivamente às unanimidades nacionais. A faca no peito ia se chamar Oráculos, mais porque a autora adora essa palavra que por qualquer outro motivo. Depois, ela achou por bem mudar, reservando o título de referência bíblica e mítica a um próximo livro. Foi quando vislumbrou na imagem audaciosa do objeto cortante em ataque frontal a única capaz de expressar o amor, tema quase exclusivo desses poemas inéditos, escritos entre agosto de 1987 e junho de 1988. Divididos em duas partes, Por causa da beleza do mundo e Por causa do amor, eles ganham sua unidade por refletirem a vida ordinária e o sentimento mais revolucionário de todos. Mas também falam da humildade do poeta, de seu medo, das palavras perfeitas ("aranha, cortiça, pérola"), da mulher que sonhava inventar o ponto de cruz e o fermento, de quase tudo que há solto por aí. Afinal de contas, para Adélia, "se a poesia é divina, o poeta tem pés de barro; ela é a revelação do real, a coisa mais bonita e mais triste que existe".