Por que ler os clássicos

Abstract

É certo, como diz ítalo Calvino, que "nenhum livro que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão". Ou seja, a leitura crítica jamais substituirá a leitura da obra de criação — mas é fundamental, muitas vezes, para chamar a atenção para detalhes importantes, revelar aspectos despercebidos, projetar nova luz sobre autores já empoeirados. É o que faz Calvino nestes ensaios, críticas, prefácios e resenhas, que constituem uma bela reflexão sobre o sentido dos clássicos nos nossos dias. No artigo que abre a coletânea, são dadas catorze definições do que sejam os clássicos. Na primeira delas, deparamos com o velho humor de Calvino: "Clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: 'Estou relendo' e nunca 'Estou lendo'"... A partir dessa reflexão inicial, ele faz um percurso que, como não poderia deixar de ser, tem início na Grécia, e atravessa séculos de tradição literária ocidental, para terminar em plena vanguarda, com Raymond Queneau. O trajeto está cheio de insights sobre autores essenciais, tanto da Antiguidade (Xenofonte, Ovídio e Plínio) como dos tempos modernos (Voltaire, Stendhal, Balzac, Flaubert, Henry James e Tolstoi) ou ainda clássicos contemporâneos (Borges, Montale, Ponge e Gadda).